NOTA | Entidades do Agronegócio distorcem fala de Lula ao Jornal Nacional

NOTA DA CONTAG

A Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares
(CONTAG), ciente de sua responsabilidade política enquanto representante sindical da
agricultura familiar brasileira e de seu papel histórico de representação em defesa da
democracia, dos direitos, da justiça social e do desenvolvimento sustentável e solidário, vem a
público informar a sociedade brasileira e esclarecer afirmações que algumas entidades do
agronegócio estão apresentando por meio de notas, e de forma distorcida quanto ao conteúdo
da entrevista de Luiz Inácio Lula da Silva ao Jornal Nacional.


O candidato falou que parte do agronegócio está comprometido com as políticas de
desmatamento e queimadas, armamento da população e com a política de disseminação do
ódio. Não generalizou. Ao contrário, foi bastante enfático ao sugerir até que seria possível a
convivência da agricultura familiar e o agronegócio (latifúndio) e cada um sendo importante
para o País, tendo a agricultura familiar e camponesa a responsabilidade de produzir alimentos
saudáveis e sustentáveis e garantir a soberania e a segurança alimentar e nutricional do povo
brasileiro, e o agronegócio em produzir commodities (mercadorias).

Uma das diretrizes do Programa de Reconstrução do Brasil apresentado pela chapa Lula/Alckmin afirma isto:
“A produção agrícola e pecuária é decisiva para a segurança alimentar e para a economia
brasileira, sendo um setor estratégico para a nossa balança comercial. Precisamos avançar rumo
a uma agricultura e uma pecuária comprometidas com a sustentabilidade ambiental e social.
Sem isso, perderemos espaço no mercado externo e não contribuiremos para superar a fome e
o acesso a alimentos saudáveis dentro e fora das nossas fronteiras. Ademais, é imprescindível
agregar valor à produção agrícola, com a constituição de uma agroindústria de primeira linha,
de alta competitividade mundial”.


Utilizando-se do ensejo, essas entidades, dizendo-se que o mesmo desconhece o setor, acabam
por apresentar informações inverídicas sobre a questão ambiental e a produção agrícola no
Brasil. Soja e milho não são produzidos para alimentar o Brasil nem o mundo. O mesmo vale
para o gado. É extremamente contraditório comemorar recordes de produção de grãos para
exportação quando o País tem mais de 33 milhões de pessoas passando fome e metade da
população vive restrição alimentar. O cidadão e a cidadã brasileiros estão sofrendo com os
preços dos alimentos, principalmente da carne.


Uma das notas diz que “não há símbolo maior de paz, democracia e relevância do que ‘produzir
alimento’ para a população mundial”. E segue dizendo que o “agronegócio é um só. Somos
unidos e seguimos um mesmo ideal. O pequeno e o grande produtor têm o mesmo valor”. Só se
esqueceu de dizer que não têm a mesma quantidade de terras e a mesma quantidade de
recursos para financiamento da produção, pois a agricultura familiar ocupa apenas 23% das
terras e, com elas, produz a maioria do feijão, da mandioca, do milho, do leite, dos suínos,
caprinos e ovinos, aves, café, trigo, arroz, frutas e hortaliças.


Também as notas, e dois candidatos à Presidência da República, dizem que o agronegócio
brasileiro é o “mais sustentável do mundo”. Basta olhar os indicadores de clima, desigualdade,
desmatamento e utilização de agrotóxicos – alguns inclusive proibidos na Europa e nos EUA. Os
dados da Global Forests mostram que o Brasil é o campeão mundial de desmatamento tropical.
Em 2021 respondeu por quase 50% da perda vegetal primária do mundo. O garimpo ilegal e as
queimadas estão gerando mais poluição e violência no campo. Nosso País amarga uma péssima
imagem no mundo em razão desta e de outras práticas danosas aos povos, ao meio ambiente,
à saúde e à economia.


Os dados mencionados pelas notas são da agricultura familiar, e não do agronegócio. Segundo
dados do relatório da ONU, em 2018, sobre o estado da segurança alimentar e nutricional do
mundo, é a agricultura familiar, camponesa e indígena que produz cerca de 80% dos alimentos
consumidos no planeta e preserva 75% dos seus recursos agrícolas. Na América Latina e Caribe,
somente as mulheres rurais produzem 45% do que a sociedade consome.


A agricultura familiar brasileira, com apenas 23% das terras, gera 10,1 milhões de ocupações no
campo, responde por 23% do valor da produção agropecuária e é responsável pela dinamização
econômica de 90% dos municípios brasileiros com até 20 mil habitantes (68% do total), segundo
o IBGE. Isso a coloca como a oitava maior produtora de alimentos do mundo, segundo dados de
2018 do Banco Mundial e Mapa.


O mundo está buscando o equilíbrio na matriz de produção de alimentos que esteja ancorada
na sustentabilidade social, econômica e ambiental. É preciso recolocar o tema da reforma
agrária na agenda estratégica nacional e recuperar a imagem do Brasil neste aspecto com ações
efetivas e voltar a liderar as propostas para a preservação ambiental e combate à fome e à
miséria, inclusive retirando-o novamente do mapa da fome para o qual vergonhosamente
voltamos.


Diretoria da CONTAG / Diretoria da FETAG-AL